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sábado, 9 de junho de 2012

ABEL DA CUNHA - Poeta Vimaranense



ABEL DA CUNHA – Poeta vimaranense

Nota biográfica -

Abel Machado da Cunha é natural de Guimarães, Portugal, onde nasceu em 1940. 
É licenciado em Filosofia, pela Universidade do Porto, e diplomado em Música, pela Yamaha Music Foundation. Foi professor de Psicossociologia e Pedagogia na ETSSP do Porto e director pedagógico no âmbito das actividades musicais da YMF em Portugal. Nesta última condição foi director e redactor da revista de animação cultural Notas de Música.
Durante um certo tempo, dedicou-se à crítica literária em revistas portuguesas e no jornal A Voz. De referir alguns artigos sobre Raul Brandão e sobre o teatro de João Pedro de Andrade.
As influências poéticas principais derivam sobretudo da poesia francesa dos fins do século XIX, principalmente do Simbolismo, e da poesia espanhola do modernismo. Importante foi o estudo da cultura clássica greco-latina e medieval, o conhecimento dos Trovadores portugueses, desde D. Dinis, e da grande tradição da poesia portuguesa. Dos nossos poetas modernos importa referir todo o compêndio da obra de Fernando Pessoa. 


ALGUNS POEMAS

ENIGMA

Folha de papel. Um corpo nu e virgem.
Estendido tentador que se oferece
Nas areias brancas. Nela se descrevem
Todas as palavras para ver-lhe a face.

Uma dura esfinge cálida aparece.
É um alto enigma. Mostra a sua imagem.
Cada viandante passa ao lado e tece
O sentido das palavras na viagem.

Folha de papel. Hieróglifos fatais
Desenhados no deserto pelo vento.
As palavras da esfinge ficarão

Pelo tempo repetidas aos mortais.
Quantos pés tens tu movendo o pensamento?
Serão quatro ou dois ou três? Quantos serão?

Abel da Cunha

*


DANÇA DAS HORAS

As horas num vaivém em contratempo
O mesmo ciclo dançam noite e dia;
Os pés rebatem ritmos de folia
Enquanto valsa lento o pensamento.

A vida, João de Deus, é uma nuvem
Que voa alto e ninguém alcança;
Levamos pela mão uma criança
Sempre a sorrir aos sonhos que lhe fogem.

Quantas canções de esperança entoei!
Quantos momentos foram adornados
De engano e fantasia! E sonhei...

Da vida tenho inteira consciência.
Mas do bem e do mal e dos meus fados
Que falem outros sobre a minha ausência.

                                     Abel da Cunha
*

ÀS VEZES

Ao poeta Frassino Machado
 
Às vezes entre os versos nascem flores:
violetas, lírios, cravos, açucenas,...
Esqueço pressuroso as duras penas
que a vida é festa cheia de fulgores.

Doce espumante of'reço aos meus amores
em brindes de memórias muito breves
enquanto o vinho em altas taças leves
intenso e puro ferve as suas cores.

Que ricas são as rimas nesses dias!
Num cofre guardo as raras fantasias
cativas pela arte imaginada.

Colhendo as flores ficam sombras frias
a refletir as pétalas tardias
que teimam a boiar à tona da água.

                               Abel da Cunha


*

AO PORTUGAL DESCONHECIDO


                       Ao Ricardo de Saavedra


Em Guimarães podia ler o berço
de Portugal escrito nas muralhas.
Cumpriu mil sonhos. Foram maravilhas
dum heroísmo que já não conheço.

A vida do seu povo teve um preço
que resgatou em sangue nas batalhas.
Mas hoje só navega em barcas velhas
sem força de revolta ou recomeço.

A capital do reino foi Lisboa.
Camões morreu. Morreu também Pessoa.
A língua portuguesa era uma vez...

De meio mundo herdado em Tordesilhas
apenas resta um prato de lentilhas.
E o nosso rei agora fala inglês.

                                     Abel da Cunha

***


N. B.  Ver também o Site do autor:

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